Mesquita prega simplicidade, regras e reverência

Islamismo
Foto: Fabio Lima/O POVO Descrição: Imagens de sala de orações de muçulmanos no bairro Jacarecanga. Fotos de 2015

Para entrar, tira-se o calçado, indistintamente. É regra, o ambiente é sagrado. Os homens ficam num salão, as mulheres seguem para outro. Armários principalmente com livros religiosos, musallas (tapetes) no chão apontadas para o nascente. É um ambiente de orações, reflexões, de reverência. Simplicidade nos demais compartimentos que pudemos estar. A celebração já havia se encerrado. Apesar do combinado anteriormente com a reportagem, nada de registro em imagens. Quando chegamos, havia três homens, cinco mulheres e algumas crianças, incluindo uma bebê de cinco meses, filha de uma cearense e de um paquistanês. Moram em Fortaleza há quatro anos. O casal e os demais seguem os ensinamentos de Maomé, criador do islamismo. O local é uma das duas mesquitas existentes na Capital cearense.

O Centro Beneficente Islâmico de Fortaleza (CBIF) fica na rua Mendes Guimarães, no bairro Presidente Kennedy. Pode receber cerca de 50 pessoas, mas, diante da pandemia, tem adotado restrições, limitado o número de presentes a menos da metade nas celebrações, às sextas-feiras. O endereço tem cerca de três anos. Alguns dos que frequentam são de vários países: Guiné-Bissau, Paquistão, Tunísia, Bangladesh, Senegal, Mauritânia, Argélia... até do Brasil. O grupo, ou parte dele, antes se reunia em mesquitas que funcionaram por mais de dez anos nas ruas São Paulo e Major Facundo, no Centro, mas ambas fecharam há cerca de quatro anos. A outra mesquita, mais antiga, com perfil residencial, fica na rua Rocha Lima, no Centro - mas estaria sem receber visitas por causa da pandemia.

Também do paquistão, Ahmaad Saeed, de 76 anos, é um dos mais antigos do grupo. É professor de economia rural na Universidade Federal do Ceará (UFC), mora no Estado há 42 anos. Único que se permitiu ter o nome publicado e ser fotografado - do lado de fora da casa, que inclusive não tem nada que a identifique como templo religioso. "Nunca sofremos intolerância aqui. Não falamos mal de ninguém. Não tratamos mal, não falamos de política", destaca Saeed. Segundo ele, já está aberto o trâmite contábil, cartorial, administrativo e jurídico, para formalizar a mesquita com o registro junto às autoridades fiscais locais.

Doutrina começou em Fortaleza com reuniões reservadas

Espiritismo
Foto: Thais Mesquita/OPOVO Descrição: Presidente da Federação Espírita do Ceará, Luciano Klein Filho. Luciano na fachada da sede da entidade, onde funcionou o primeiro centro espírita de Fortaleza.

Fé e Caridade foi o nome do primeiro grupo espírita fundado em Fortaleza, em 18 de novembro de 1895. A iniciativa foi pioneira para uma época em que o Brasil, de República recém-proclamada, ainda mantinha costumes de um país onde a Coroa Portuguesa havia estabelecido o catolicismo como religião oficial. Então havia preconceitos. O dono da empreitada religiosa, corajosa, foi o médico carioca Luís de França de Almeida e Sá. Ele se estabeleceu na cidade por pouco mais de dois anos, mas deixou um legado.

A Federação Espírita do Estado do Ceará (FEEC) funciona hoje onde foi o primeiro centro espírita de Fortaleza, já em 1910, na rua Princesa Isabel - coincidentemente quase em frente à primeira igreja evangélica da cidade. À época, o bairro era o lócus do poder, de onde se irradiavam novidades culturais, sociais e também religiosas. Ainda hoje é o bairro com maior densidade de templos de todos os credos dentro do território da Capital. Nas primeiras décadas do século XX, a doutrina espírita se expandiu, mas reservadamente.

"Evidente que o movimento espírita em Fortaleza, pela própria situação da sociedade local, conservadora por excelência, sofreu muitas perseguições. Houve muitas reações, mas graças à obstinação desses pioneiros, tivemos oportunidade de vê-la se expandir", confirma Luciano Klein Filho, presidente da FEEC, historiador de formação, 57 de idade e espírita há 36 anos.

Hoje, segundo ele, existe centro espírita em quase todo bairro. Contando Capital e Interior, são 84 filiados à Federação local. No próximo Censo demográfico, que será realizado em 2022, Klein acredita que os números locais deverão ser o triplo da contagem de 2010, que apontou cerca de 32 mil seguidores da doutrina autodeclarados.

Sinagoga rebatizada: "as raízes daquilo que vivemos"

Judaísmo
Foto: Thaís Mesquita/ OPOVO Descrição: Rabino Nielson Queiroz Congregação Beit Peniel Fortaleza.

Uma década atrás, o nome Igreja Batista Peniel de Fortaleza não dava a entender, para quem passasse em frente à fachada da rua Assunção, no Centro da cidade, que ali era um dos templos usados por judeus na capital cearense. Aparecia como mais uma igreja evangélica e mudou para o judaísmo. Já existe há quase quatro décadas. Há oito anos, o letreiro foi alterado. Passaram a se identificar como Beit Peniel de Fortaleza. Do hebraico, beit quer dizer "casa" e peniel, "face de Deus". Apesar de admitirem que o lugar possa ser tratado como uma sinagoga, preferem chamá-lo como congregação ou... "apenas Beit Peniel", destaca Nielson Queirós, o rabino.

"Passamos a estudar e ver as diferenças. É como se estivesse jogando luz em coisas que você não entendia. Você passa a ter que fazer uma mudança, sai de um contexto para as raízes daquilo que vivemos", explica. No registro como organização religiosa formalizada, o local adota Congregação Peniel de Fortaleza. Segundo Queirós, as outras duas sinagogas atualmente em funcionamento ficam nos bairros Messejana e Aldeota.

Queirós diz que a de Messejana adota perfil mais ortodoxo de conversão, ritos e ensinamentos. A da Aldeota funciona na residência do ex-vice-governador do Estado, Francisco Pinheiro, historiador de formação, que além de convertido é um dos pesquisadores e preservadores da cultura judaica no Ceará. "Muitos anos atrás visitei uma que funcionava na rua Carlos Vasconcelos, mas eles saíram de lá e não sei onde o grupo se encontra. Os núcleos surgem em casas e a gente não tem o número exato das sinagogas", diz o rabino. A Beit Peniel segue a linha messiânica em Jeshua, "o messias", como é Jesus para o cristianismo. Há 150 pessoas cadastradas, frequentadores.

Oito espaços e práticas alteradas pela pandemia

Em pelo menos oito espaços - a maioria deles sem atendimento presencial retomado por causa da pandemia -, as três principais escolas do pensamento budista atuam em Fortaleza. A tibetana tem práticas mais esotéricas, é mais ritualística. A corrente japonesa aplica o budismo da fé, devocional, zen, mais meditativo. A de formação chinesa vive o chamado budismo integral, une fé, meditação e os devidos rituais. Dos espaços locais, um é da tradição chinesa, dois adotam as práticas japonesas, e cinco seguem a corrente do budismo do Tibet.

Os valores trabalhados com os praticantes, no entanto, não diferem entre elas: humildade, honestidade, justiça, caráter, equilíbrio entre vida e meio ambiente, respeito. Agrega psicologia, filosofia e religião. "O budismo é pragmático, só tem sentido se for aplicado na vida", ensina Antônio Guerra, professor universitário, 69 de idade e praticante há 30 anos. De orientalista, aluno de kung fu, passou a frequentar os rituais e cercou-se do tema completamente na sua rotina.

"Na Uece temos um Laboratório de Estudos e Pesquisas Orientais (Lepo), que abriga entre seus diversos grupos de estudos, um de estudos budistas, chamado Sangha. Esse grupo vinha realizando encontros para estudar os aspectos teóricos da doutrina budista e praticar meditação. Também realizávamos mostras de filmes budistas com comentários de mediadores. A pandemia, no entanto, alterou toda essa estrutura", descreve o professor.